19 de maio de 2011

Treinando através dos jogos reduzidos e jogos adaptados

Com a evolução do treinamento desportivo, muitos postulados teóricos foram desmistificados

Rodrigo Vicenzi Casarin

“Todos os treinadores falam de movimento, de correr muito. Eu digo não corram tanto. O futebol é um jogo que se joga com o cérebro. Tens de estar no local certo no momento certo, nem antes nem depois”. (Johan Cruyff)

Ao longo dos anos, no campo futebolístico, uma das maiores dificuldades no treinamento prendeu-se na incapacidade dos profissionais integrarem os diversos fatores do rendimento desportivo.

Com a evolução do treinamento desportivo e a inserção de novos conceitos metodológicos, muitos postulados teóricos, evidentemente distantes das solicitações impostas pelo jogo, foram desmistificados.

Se a falta de conhecimento que as pessoas possuíam acerca do jogo resultou em um longo período de treinamentos fragmentados, a nova realidade demonstra que as dimensões (física-tática-técnica-mental) são indissociáveis e estão em constante interação.
Desta forma, não se compete para superar uma distância ou um tempo. Compete-se para dar solução aos problemas criados e pela aleatoriedade que a própria natureza do jogo vai criando.
Dentro dessa perspectiva, a análise da lógica interna do futebol demonstra que a grande maioria das situações de jogo não envolve mais de sete a oito atletas e nessas ações busca-se invariavelmente superioridade numérica e posicional.

Neste contexto, torna-se claro que a utilização dos jogos reduzidos e modificados dá condições para que o processo de treino se torne cada vez mais próximo da realidade específica que o jogo impõe.

Se no passado tinham apenas o objetivo de desenvolver as capacidades técnicas e táticas isoladamente, ou como recreação ou rachão, sem uma sistematização dos princípios do jogo (fundamentais, específicos e relacionados ao modelo de jogo), atualmente utiliza-se os mesmos para o desenvolvimento do jogar. Ou seja, para que a equipe e os jogadores adquiram padrões comportamentais nos variados momentos do jogo (organização defensiva, organização ofensiva, transição ataque-defesa, transição defesa-ataque).

Abaixo o conceito dos jogos:
Jogos Reduzidos: constituem-se como simplificações da formalidade competitiva, caracterizando-se essencialmente por formas de competição em que se reduz o número de jogadores e o espaço do jogo. Desde o 1 x 1 , 5 x 5 ao 8 x 8 passando pelas formas de superioridade do ataque (2 x 1, 6 x 4, etc) ou da defesa (2 x 4, 7 x 5, etc).
Jogos Modificados: caracterizam-se pela modificação/alteração de um conjunto de variáveis estruturais, funcionais e regulamentares do jogo que permitem ao treinador centrar-se sobre determinados conteúdos a serem desenvolvidos.
De acordo com o conjunto de definições apresentado, fica explícito que o treinamento deve ser estruturado através desses jogos. Se utilizada essa linha de trabalho, os atletas terão estímulos para raciocinarem rapidamente, com inteligência, sendo que a eficiência do jogo será maior e o atleta saberá o que fazer ao ter a bola e como colocar-se depois de perdê-la.
É claro que esse paradigma, totalmente novo para alguns no campo futebolístico, não resolverá toda incerteza e imprevisibilidade pertencente ao jogo, mas procurará desenvolver regularidades na desordem do mesmo.
Como todos sabem, dificilmente acontecem jogos iguais, mas podem ocorrer jogos semelhantes; basta estruturar atividades que fortaleçam os mecanismos do jogar, sempre buscando um objetivo a ser alcançado ou aperfeiçoado, ou seja, uma determinada forma de jogar para sua equipe.

11 de maio de 2011

Antes de modelo pedagógico, educação física tem meta mais modesta.



Esporte não depende apenas de padronização metodológica, mas de consolidação de aulas

Guilherme Costa

Derrubar o tecnicismo e instituir uma perspectiva fundamentada nos conceitos construtivistas e sistêmicos são as metas mais claras para a atuação da pedagogia no esporte. Contudo, há um objetivo bem mais modesto para a educação física: criar uma cultura e ter aulas com algum propósito real.

"O que vemos muitas vezes é que os professores nem dão aula efetivamente. Alguns soltam a bola e deixam os alunos jogarem. Isso não é educação física. Eu seria muito mais feliz se houvesse uma perspectiva tecnicista, mas com ensino", explica a pedagoga Tânia Leandra Bandeira.

De uma forma geral, mesmo o modelo tecnicista não é uma unanimidade na educação física do Brasil. Os profissionais da área têm uma forma de atuação que muitas vezes oscila entre uma ou mais correntes.

"Desde o tecnicismo pedagógico até as abordagens mais interacionistas, dificilmente encontra-se um profissional na área que se encaixe perfeitamente e exclusivamente em uma das abordagens do nosso campo de estudo. Digamos que um professor que se diz construtivista, quando se depara com uma situação inusitada pode ter determinadas atitudes mais autoritárias, e em outros contextos pode ser mais complacente ao diálogo. Em outra instância, um professor mais tecnicista pode ter ‘momentos de lucidez´ e considerar outros pontos", lembra o pedagogo Fábio Pinto Reis.

A atuação da pedagogia no esporte, contudo, pode ser muito mais abrangente do que apenas a transmissão de conteúdo e o aprendizado. Os alunos podem ter contato com uma perspectiva diferente, e assim desenvolver seu senso crítico.

"De acordo com o trabalho, os alunos podem desenvolver a capacidade de avaliação e solução de problemas. Essa assimilação e esse desenvolvimento de atividades não são úteis apenas no esporte", comenta o pedagogo Adriano José Souza.

* Colaborou Gabriel Codas